Depois da Caçada soa como uma aula de filosofia confusa (Crítica)
Dirigido pelo aclamado Luca Guadagnino (responsável por sucessos como Me Chame Pelo Seu Nome e o recente Rivais) e com roteiro de Nora Garrett, Depois da Caçada teve sua estreia mundial fora de competição no 82º Festival Internacional de Cinema de Veneza, em 29 de agosto de 2025. O filme chega aos cinemas brasileiros a partir de 9 de outubro de 2025, após uma exibição de destaque como filme da gala de abertura do Festival do Rio 2025. Com um elenco estrelado que inclui Julia Roberts, Andrew Garfield e Ayo Edebiri, a produção mergulha em um complexo drama ambientado no meio acadêmico, onde a acusação de abuso contra um professor desencadeia uma profunda investigação sobre ética, poder e moralidade. O filme propõe uma reflexão sobre as falhas humanas e as ambiguidades morais, prometendo um olhar desconfortável sobre temas relevantes como machismo e elitismo.
Crítica – Depois da Caçada
Depois da Caçada é um filme que traz uma discussão interessante sobre ética, machismo e elitismo, explorando as falhas morais dentro de ambientes de poder. Luca Guadagnino constrói um retrato desconfortável e cheio de dilemas, mas que, no fim, parece não ter tanto a dizer sobre o que propõe.

O filme mergulha em debates sobre ética e moral, tendo como pano de fundo um ambiente acadêmico elitista, onde o machismo e o racismo aparecem de forma estrutural. Guadagnino usa esse cenário para explorar o comportamento humano diante do poder, mostrando como até as pessoas mais “certas” podem agir de maneiras moralmente duvidosas quando colocadas sob pressão.
Mas me parece que Luca Guadagnino não quis exatamente fazer um filme sobre machismo ou sobre racismo — até porque essas não são vivências que ele compartilha diretamente. A sensação é de que o diretor usa esses temas como pano de fundo para algo mais amplo: uma reflexão sobre ética, moralidade e sobre como qualquer pessoa, independentemente de classe, gênero ou raça, é capaz de cometer erros e agir de forma questionável.

Alma (interpretada por Julia Roberts) é o centro gravitacional da trama — não necessariamente o foco absoluto, mas a figura em torno da qual tudo acontece. A história parte da acusação de que Henrik (interpretado por Andrew Garfield), um professor branco, hétero e cis de uma grande universidade, teria abusado de Maggie (interpretada por Ayo Edebiri), uma aluna negra e lésbica. Só que o filme não se prende a isso: ele se desdobra para falar sobre ética em diferentes contextos — no trabalho, nos relacionamentos, nas pequenas decisões que definem quem somos.
A trilha sonora é peculiar, pra dizer o mínimo. Não sei se chega a agradar, mas com certeza causa algo. Assim como o filme, ela te deixa o tempo todo desconfortável, sem saber exatamente o que sentir. E acho que isso é proposital. Guadagnino cria um ambiente em que nada é fácil de digerir — e, por isso mesmo, você não consegue se apegar a ninguém. Os personagens são todos dúbios, cheios de falhas e, em muitos momentos, simplesmente escrotos.
Tem uma fala marcante que resume bem essa proposta — “nem tudo deveria te deixar confortável” — dita pela personagem Alma. É como se o próprio diretor estivesse falando com o espectador, avisando que esse desconforto é parte da experiência.

Mas no fim das contas, Depois da Caçada parece uma grande aula de filosofia sobre ética em que a gente sai meio sem saber o que aprendeu. Guadagnino fala, fala, fala… mas não chega a dizer algo realmente novo ou relevante sobre seus temas. É como se ele fosse aquele professor que se alonga na explicação, mas deixa a turma sem entender muita coisa.
E talvez por isso o filme acabe soando um pouco decepcionante — ainda mais vindo de quem entregou Rivais, uma das melhores experiências cinematográficas dos últimos anos. Lá, o trio de protagonistas e os conflitos morais funcionavam de forma magnética; aqui, tudo parece mais frio e distante. Depois da Caçada até provoca reflexões, mas não consegue sustentar o peso das ideias que levanta.

Nota: 2,5/5
✍🏽 Marcelo Silva, CEO do Multi Nerdz
Letterboxd | Instagram | Twitter
