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Sirât é uma viagem sensorial pela imigração e pelo caos (Crítica)

Dirigido pelo cineasta Oliver Laxe, Sirât é uma produção que apresenta uma narrativa misturando realismo e fantasia, seguindo uma jornada profunda através de paisagens áridas e cenários oníricos. Com elenco internacional incluindo Sergi López, Brúno Núñez e Stefania Gadda, a obra se destaca pela sua abordagem visual e pela exploração de temas universais sobre humanidade, fé e transformação pessoal.

O filme teve sua estreia mundial na competição oficial do Festival de Cannes 2025, onde conquistou o Prêmio do Júri. Este reconhecimento é concedido pelo corpo de jurados selecionado especialmente para avaliar os melhores filmes em competição, posicionando-se como uma das honrarias mais respeitadas do festival, abaixo apenas da Palma de Ouro. Posteriormente, Sirât foi selecionado como representante da Espanha na corrida ao Oscar de Melhor Filme Internacional 2026 e abriu a 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, onde tivemos a oportunidade de assisti-lo.

A produção é resultado da colaboração com a renomada produtora El Deseo de Pedro Almodóvar e no Brasil chega aos cinemas em 15 de janeiro de 2026 pela distribuidora Retrato Filmes.

Crítica – Sirât

Sirât é mais que um filme — é uma experiência sensorial. Visual e sonora, ele envolve o espectador num transe em que a narrativa parece menos interessada em contar uma história e mais em fazer a gente sentir aquele mundo em colapso.

A premissa é simples: um grupo de amigos parte em busca de uma rave, enquanto um pai e seu filho mais novo procuram uma filha desaparecida. Os caminhos desses dois grupos acabam se cruzando, e a partir daí o filme se transforma numa jornada quase alucinógena pelo deserto do Norte da África — especialmente pelas paisagens áridas do Marrocos, que são ao mesmo tempo belas e assustadoras. A fotografia é deslumbrante e claustrofóbica, evocando um clima que lembra Mad Max, mas com um olhar mais contemplativo.

Cena de Sirāt com Jade Oukid (Jade Oukid) e Richard Bellamy (Richard Bellamy) dançando entre um grupo de pessoas em meio a poeira de cenário desértico; Jade ergue o braço em movimento enérgico enquanto Richard, de cabelo curto, vibra ao ritmo. Todos vestem roupas casuais e alternativas, criando atmosfera de celebração em espaço árido.

A trilha sonora é outro ponto alto. Mesmo pra quem não é fã de música eletrônica, Sirât cria uma imersão impressionante: os sons pulsantes e os graves constantes dão o tom dessa jornada, transformando cada cena numa experiência quase física.

Aos poucos, percebemos que aquele cenário não é “normal”. Tudo indica que o mundo está em guerra — talvez uma Terceira Guerra Mundial — e as pessoas parecem estar fugindo de algo. O filme não explica muito, e isso é parte do que o torna tão interessante. São as lacunas, os silêncios e os fragmentos de informação que fazem a gente montar esse quebra-cabeça de destruição e desespero.

No começo, é fácil julgar os personagens: o mundo está acabando e eles estão indo pra uma rave? Mas, com o passar do filme, a gente entende que talvez aquela fosse a última chance que eles tinham de se sentirem vivos — de viver alguma coisa real num mundo que já acabou. A gente sabe muito pouco sobre eles, sobre o que viveram, sobre o que perderam. E é justamente isso que torna a jornada tão humana.

Os atores Stefania Gadda sentada em mochila com vestido vermelho, ao lado de Tonin Janvier agachado, Richard Bellamy sem camisa acariciando um cachorro branco, enquanto Sergi López fica em pé observando, todos em cenário desértico claro em cena do filme Sirāt.

Com o tempo, Sirât vai se revelando como uma grande metáfora sobre imigração. Esses personagens estão em uma travessia, buscando um lugar onde possam não apenas sobreviver, mas viver de verdade. E o final escancara isso de forma muito bonita — é quando tudo ganha um novo significado.

No fim, é impossível não se sentir um pouco culpado por ter julgado aquelas pessoas no início. Porque, assim como na vida real, a gente não sabe o que os outros enfrentaram, de onde vieram, o que estão tentando deixar pra trás. Sirât fala sobre isso também: sobre a empatia, sobre o impulso de buscar um lugar melhor, e sobre a necessidade de se sentir vivo — mesmo quando tudo à volta parece morto.

Nota: 3,5/5

✍🏽 Marcelo Silva, CEO do Multi Nerdz
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Marcelo Silva

CEO, 25, SP

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